terça-feira, 25 de março de 2008

Almira entre céu e mar

Em dias nublados, Almira prefere caminhar pela praia.
Seus olhos sempre evitam, mas mesmo assim ela não pára de olhar para o infinito.
O encontro de céu e mar mostra que tudo está tão próximo, por mais distante que pareça.
Mas o fato de olhar para longe e não ver um fim é o que a deixa intrigada.
Como de costume, senta-se num ponto que, condicionalmente, escolhe.
Ali ela espera, todos os dias, que alguém tenha a bondade de fazê-la acreditar o que seja esse mistério.
Muitos passam por ela e tentam adivinhar o que ela quer. Alguns até supõem, mas não a convencem.
Alguns tentam convencê-la com as histórias antes ouvidas, vividas, ou mesmo esperando viver. A menina ouve com paciência a cada explicação, mas seu coração não sente que é isso não.
Ali sentada, ela passa horas de confusão. E as nuvens insistem bater no mar...
Ela até encontra pessoas mais dúbias do que ela quando ouve dizer “está ali, é só você esticar o braço que você alcança”. Ou então, aqueles que dizem já terem chegado naquele fim, mas hoje não é mais possível.
Com os pés afundando na areia, segue a menina.
A cada passo dado, a água se aproxima e ela pode sentir seus pés mais pesados. Ela, então, continua sua caminha percebendo que a imensidão das águas só se faz aumentar.
Tem dias que ela espera a lua chegar. Quando desmedida, a faz esquecer um pouco do tamanho desse infinito.
Seus olhos por alguns segundos desviam-se do mar e a lua se faz brilhar.
Mas já é hora de Almira voltar...
E no seu caminhar seleciona partes do que quer juntar, para quando alcançar aquele infinito estar livre das hipocrisias e das insensibilidades humanas.
No fundo, Almira acredita chegar onde se encontra céu e mar, onde causa encontros de sol e lua... por mais impossível que pareça.



Pablo Picasso

Leonardo Da Vinci
Vicente Van Gogh
Claude Monet

segunda-feira, 17 de março de 2008

A Cidade Que Exala Cultura - Tágore Aryce

Sou um ser apaixonado pela arte, por isso saio de Goiás todos os anos e vou ao Rio de Janeiro em busca de enriquecimento cultural, vivendo a arte onde ela acontece em cada esquina e a todo o momento. Para quem busca cultura nostálgica ou mesmo contemporânea, não há lugar melhor que o Rio de Janeiro que, indubitavelmente, continua lindo.

Nos meados do século passado a Lapa foi um reduto onde se era possível tomar uns porres com grandes nomes do cenário musical, político e cultural. Hoje, o tradicional bairro da boemia carioca retoma seu tempo áureo com uma esplendorosa efervescência cultural, nos rendendo frutos com artistas jovens fazendo música da melhor qualidade, como Tereza Cristina que se apresenta acompanhada do Grupo Semente; o Grupo de Samba Sururu na Roda, reunião de estudantes universitários da Faculdade de Música da Uni-Rio; O grupo Casuarina, comandado por João Cavalcanti, filho de Lenine que embala a nova geração da Lapa com sambas antigos e atuais; Diogo Nogueira, filho de João Nogueira, que apresenta as músicas do pai e composições próprias com timbre parecido com o do velho Presidente do Clube do Samba.

Todos esses nomes fazem o samba tradicional (denominado por muitos, samba de raiz) e composições próprias. São apenas exemplos esparsos dos frutos colhidos por uma revitalização cultural no bairro, que acontece desde 2002, nos deixando a certeza de que temos uma turma fazendo arte com qualidade e nos tirando aquele estigma de que a atual geração nada produz.

Mas nem só dos jovens nomes vive a cultura da Lapa, eventualmente se apresentam Dona Ivone Lara, Monarco, Nelson Sargento e tantos outros nomes da velha guarda do samba. Enfim, de segunda a segunda a Lapa nos enche de alegria de viver e nos dá condições de navegar nas ondas da cultura, sendo hoje, patrimônio cultural do Brasil.

Caso amanheça no samba e ainda tenha pique, passe pela Confeitaria Colombo, no centro da cidade (pertinho da Lapa). A confeitaria é suntuosa, símbolo da Belle Époque. Construída no ano de 1894, também foi refúgio de grandes nomes da política e cultura no início do século passado. Ainda pelo centro, conheça o Bar Luiz, casa com 120 anos de tradição e que tem um chopp inigualável.

Ao sairmos do centro da cidade em direção à Zona Sul, é possível sentir um cheiro de nostalgia no ar. Pode-se caminhar horas pelo bairro de Ipanema sem perceber o quanto se andou e chegar até o número 107 da Rua Nascimento Silva, que fica entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Praia. O endereço serviu de residência ao grande Maestro Tom Jobim e foi imortalizado na música “Carta ao Tom 74”.

Mais à frente da Nascimento Silva está a esquina composta pelas ruas Vinicius de Moraes e Prudente de Moraes, que é parada obrigatória. De um lado da rua está o Bar Garota de Ipanema, antigo Bar Veloso, onde se reuniam Vinicius, Tom, Miúcha, Nara Leão, Chico Buarque e tantos outros fenômenos da Música Brasileira. Dali, durante as dezenas de rodadas de chopp, saiam obras primas com versos que nos emocionam até hoje. Na parede há quadros com fotos dos antigos freqüentadores, além da cópia original da partitura da música que dá nome ao bar. A Picanha Brasileira é o prato principal da casa e é realmente uma iguaria.

Do outro lado da rua está o Bar Vinicius que, de quinta-feira a domingo, tem ninguém menos que Maria Creuza, intérprete preferida de Vinícius de Moraes. A apresentação ocorre no andar superior da casa, ambiente aconchegante que dá um ar de intimidade com a cantora que, durante o show, nos conta momentos vividos ao lado do poetinha camarada, nos remetendo àquela época fascinante vivida no bairro.
Faço minhas as palavras de Maria Creuza que em suas apresentações diz que aquela é “a esquina mais musical do mundo.”

Na cidade do Rio de Janeiro é possível assistir a shows todos os dias. Portanto, observe o caderno cultural dos jornais e à noite presencie excelentes apresentações em casas maravilhosas como o
Mistura Fina, Teatro Rival, Centro Cultural Carioca, Carioca da Gema, Canecão, Fundição Progresso, Vivo Rio, Morro da Urca, entre tantas outras. A bem da verdade, para se fazer um roteiro completo sobre as opções culturais é preciso escrever um livro, tamanha a quantidade de bares, restaurantes, casas de shows e eventos.

O Rio de Janeiro encanta aos olhos e enriquece a alma, afinal, além de tamanha magnitude cultural, há ainda a beleza natural inigualável. Portanto, vá ao Rio de Janeiro e se delicie com o ar cultural que a cidade exala. É um passeio inesquecível!


Ivone Lara
Maria Creuza

Tereza Cristina