quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Leônidas Arruda, eternamente

Os dias vão passando, e o mundo sem você
Palavras vêm e vão, perdendo-se pelo caminho
Em busca de suas mãos para organizá-las
O papel se perde com o vento, pois já não tem mais seu grafite a marcá-lo
As rimas tentam se encontrar entres alegrias e tristezas
Porque você não está, mas já as fizeram muito perfeitas
A ausência se torna assustadora diante de um mundo sem suas histórias
É um mundo sem garra, sem luta por justiça, sem doçura
Em papéis coloridos ainda vejo uma bonita imagem
Ouço o som da sua risada e vejo seu olhar profundo
Olhar que não tem medo de nada, pois parecia já ter enfrentado tudo
Parecia não haver cansaço no físico marcado pelas lutas
Tudo acabou para os que acreditam que acabou
Mas nessa estrada, você estará sempre presente
Marcando com palavras, gestos que terra nenhuma consumirá
Uma corrente de ensinamentos que se estende sem saber quando parar
Sempre será o gigante de nome pujante e voz firme
Lenda viva e constante que ninguém esquecerá
Leônidas Arruda, pra sempre será!





Monólogo com Drummond (1973)

Drummond,
nem precisa abrires a boca para me falares
falando.
Basta ler teus versos para conversares comigo
como quem no tempo fala com todo mundo.

Tuas palavras gritam, saltam, inundam, inauguram,
transcendem, transferem-se para o nosso mundo,
cresce em nosso ser,
explodem em nossos sentidos
e vão pelo tempo e vão pelo ar e vão por aí...

Drummond,
como sabes expressar tudo o que por dentro sentimos:
“zunzim de mil zonzons zoando...”
Tudo o que tememos:
“A bomba não admite que ninguém se dê ao luxo
de morrer de câncer”.
Tudo o que desejamos:
“Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.
E mais: chegas ao ponto de dizer o indizível
como “a polpa deliciosíssima do nada”.

Também, pudera, és “Fazendeiro do Ar”,
criador de palavras, criador de poesia
e tens uma “Viola de Bolso”.

Quantas vezes nos identificamos em “Nosso Tempo”:
eu também tenho “Uma Pedra no Meio do Caminho”,
eu também sinto a “Falta que Ama”,
minhalma também está no “Brejo das Almas”,
no “Sentimento do Mundo”,
na “Rosa do Povo”

Foi contigo que aprendi a “Lição de Coisas”,
mas infelizmente, não tenho o “Claro Enigma”,
tampouco, a “Vida Passada a Limpo”.
Porque sou um “Menino Antigo”
e carrego todas as “Impurezas do Branco”.

Mas, também sou “José e Outros”
e quando me perguntam: E agora curumim?
Sinto apenas o “Boitempo” mugindo reminiscência,
remoendo lembranças,
pastando numa idade verde e distante.

Por tudo isso, Drummond,
sinto que me encontro quando encontro contigo
e sento à mesa e sirvo-me de “Alguma Poesia”.



Leônidas Arruda (23/02/1942 - 09/12/2008)