segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Espelho, espelho meu

O espelho é um objeto do qual não sei viver sem
Minha cara é sua cara dia após dia
Dia gosto do que vejo, dia não
Me vejo clara, amarela, escura, vermelha, pálida,
Vejo uma casca se encanecendo a cada amanhecer
Sei reconhecer cada linha, cada traço, cada expressão
Mas essa visão externa esconde uma escuridão íntima
Escuridão que esconde de mim mesmo meus medos e anseios
Escuridão que não me deixa enxergar quem sou, ou como sou
Espelho que cega minha visão para o vulcão que sempre acorda dentro de mim
Vulcão de lavas febris que queima o espaço mais improvável de se alcançar
Lavas que se esfriam sem quês e porquês
E depois nem sei para onde vão
Nem sei se adormecem junto ao meu eu interior
Para depois acordar e por pra fora meus atos mais insanos
Camuflados na figura do espelho que meus olhos conseguem enxergar
Atos que meus olhos enxergam ao serem banhados por sal
Que minhas mãos acolhem desesperadamente
Mãos que nem sempre conseguem agir pelo impulso vulcanizado
Mãos que se abrem e se fecham num controle nem sempre absoluto
Casca paralítica em frente ao espelho
Arranhando minhas mãos inocentes
Mãos que tapam os ouvidos para o som que revira meu âmago
Espelho, espelho meu...
Deixe meus olhos enxergarem minh’alma
Deixe que eu perceba quem sou
Sem esconder os possíveis vales floridos
Sem perder o crepúsculo de minha face
Por vezes torpe, por vezes singela
Espelho que reflete o mundo
Permita que eu reflita sobre mim
Não me desvende a covardia de meus olhos
Olhos que minudencia o exterior
Mas me cegam para a alma