Lembrei-me de uma música de Tom Jobim e Newton Mendonça que diz "Quando existe alguém que tem saudade de alguém, e este outro alguém não entender...". Sendo assim, pensei que seria melhor, então, eu cortar o "mal" pela raiz. Mas horas depois, percebi que a saudade é uma praga, se alastra pelo corpo e todos os sentidos.
Um sentimento tão curioso, que apesar dos pesares também nos alegra, pois traz lembranças boas de momentos que vivemos ou pessoas que conhecemos.
A saudade é nostalgia, mas não é um mal. Pois se fosse mal, ninguém queria sentir saudade. E será que sentimos saudades por que queremos? Uma coisa eu sei! A gente sente saudade do que foi bom, o que não foi não dizemos que estamos com saudades. Mas, por que então dizemos e ouvimos dizer que estamos "morrendo de saudades"? Então a saudade mata? Então ela é um mal?!...
O músico Peninha diz em sua canção Sonhos, que saudade até que é bom, é melhor que caminhar sozinho. O que seria de nós, então, se a saudade não existisse? Digamos que a saudade seja um órgão dentro de nós que consegue carregar todos os momentos bons, todas as pessoas que gostamos e não temos por perto, todos os lugares pelo qual passamos e todas as emoções vividas.
Talvez seja essa a resposta... A saudade é um órgão, e portanto pode adoecer. Se for diagnosticado uma saudade devemos tratar, mas, para cada um o diagnóstico é diferente. Em alguns pode doer mais que em outros. Ela pode manter-se num quadro instável, pode ser curada, mas também pode matar, principalmente se não for tratada.
Cada pessoa encara sua dor de forma diferente. Já vi gente perdendo o controle, gente disfarçando como se não estivesse sentindo nada e gente que sabe conviver com essa dor. Mas, o fato é que, como a saudade é uma praga, você pode até curá-la, mas ela vai voltar, se não for por um motivo será por outro.
Lembrei-me até de um episódio que me ocorreu certa vez na adolescência, quando eu tinha um namorado. Não sei por que, mas gosto de escrever a palavra saudade, gosto dos contornos que a caneta faz. Eu estava querendo terminar esse namoro. Mas, não tinha motivos maiores, simplesmente não gostava mais dele. Certo dia, minha mãe pegou um papel do meu caderno que estava escrito muitas vezes a palavra saudade, e, claro já veio logo questionando de quem eu estava com saudades. Vai eu tentar explicar para uma mulher conservadora que não tinha nada a ver a saudade alí.
Mas depois disso, percebi que dizer que estava com saudades de alguém poderia ser frustrante, talvez. Hoje, acho que sou do tipo que não declaro saudade para qualquer pessoa. Continuo gostando da palavra saudade, e percebo que sei controlar-me bem, gostando até de senti-la, talvez mais do que acabar com ela.