Outras coisas que me deixam indignada é a Rádio RBC FM (90,1), que acaba com o horário de música brasileira das 17 às 18 horas (Hora Extra Nacional), mas o futebol continua. Deram início a um programa, nas noites de quarta-feira, só com samba, mas não durou muito tempo. A Rádio Companhia FM (91,9) também, nem se fala. Uma rádio culturalmente elevada, com muita música de qualidade, poesias, e foi vendida para se tornar uma rádio evangélica. Os bares de Goiânia, cada dia mais sem espaço para os nossos músicos se apresentarem e, nós, amantes da MPB sem poder sentar e apreciar uma boa música. Um exemplo recente é o Chopp 10, no setor Bueno, que acabou com a sexta-feira de MPB, e o forró, que levava um grande público nas quartas e domingo, passou para sexta e acabou no domingo, perdendo espaço para o pagode e axé. A situação para nós, goianienses, está difícil!...
Mas, agora, parando de reclamar, vou falar de coisas boas que, mesmo que em extinção, ainda existem. Duas coisas que amo e não vivo sem; música e cinema. Aliás, combinação perfeita!
Um dos motivos que me inspirou a voltar aqui foi presenciar na última quinta feira, 9, no bar Royal, um local privilegiado pela localização e com uma vista incrível, que é a do parque Vaca Brava, uma turma que já fez muito sucesso na década de 80, e que hoje eu ainda posso prestigiar. Cesinha Canêdo (voz e violão), Bororó (baixo) e Xará (bateria), com um repertório maravilhoso, cheio de bossa nova e alguns clássicos internacionais, como Beatles.
Sou suspeita para falar a respeito do que sinto quando tenho oportunidade de presenciar cenas como essa. Mas é uma viagem através do tempo, dos vividos e não vividos. Um desejo de estar presente em vários momentos e lugares desse nosso Brasil lindo, numa espécie de movimento cultural. E, principalmente, uma imensa vontade de viver.
Isso se deve também porque dias atrás assisti ao filme Os Desafinados, de Walter Lima Jr. Uma história com muita música e atores brilhantes, como Rodrigo Santoro, Claudia Abreu, Selton Mello, demonstrando o início de um gênero que até hoje não se define exatamente o que é, a Bossa Nova. Jovens estudantes, sonhadores, apaixonados pela música, que desejam fazer sucesso com o surgimento de um ritmo que dá total liberdade para criar e explorar os instrumentos.
Com seus 50 anos, a bossa ganhou diferentes batidas através de João Gilberto, mas teve precursores como Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscole, Nara Leão, Sérgio Mendes, Carlos Lyra e muitos outros.
A Bossa chegou a ir para fora do Brasil quando, por volta de 1960, cantores como Lena Horne, Sammy Davis Jr. e o guitarrista Charlie Byrd estiveram aqui e, encantados com a mistura de samba, jazz, ao retornarem aos Estados Unidos dividiram a descoberta com amigos. Já em 1962, o Carnegie Hall, em Nova York, era palco da mistura de ritmos.
Hoje, a bossa nova continua influenciando muitos músicos, como é o caso de Pedro Sá, guitarrista da banca Cê, que aprendeu a tocar violão ouvindo as músicas de João Gilberto. Outros nomes como Paula Morelenbaum, Los Hermanos, Bebel Gilberto fazem dos arranjos e harmonias a mistura de um passado presente, continuando no futuro exemplo de amor, suavidade, delicadeza, ritmo contagiante, sofisticação estando à frente das músicas brasileiras.
E é isso que gostaria de deixar registrado, a importância de resgatar sempre esses ritmos ricos que encantam a qualquer ouvinte. Que mesmo com as dificuldades, nossos músicos não desistam de alegrar àqueles que sentem um prazer inenarrável ao fazer parte dessa história da música brasileira. Até porque nós precisamos de música e os músicos precisam de nós.
Aproveitando o espaço, quero convidar a todos para visitarem o bar Royal. Todas as quintas-feiras a partir das 22 horas, revezando entre a bossa e o samba. O bar fica localizado na Av. T-15 Nº 522 Galeria Brava Mall, Setor Bueno.